Inda é o mesmo o mundo, eu outro.
Entre os dois o mesmo escuro
véu de noite em brancos sonhos
do outro rosto que amarguro
como um rostro sob o couro.
Inda é a mesma vida, eu outro.
E entre dois uma incontida
sina de noite e de sono.
Mão assassina e ferida,
vivo da luz que me roubo.
Inda é o mesmo amor, eu outro,
não transponho nisso a dor
do vazio de mim ao outro:
sempre em novo a recompor
o ser – o outro é o mesmo, eu outro.
Santiago Villela Marques, In: Outro, 2008.